No teatro que move minha vida, eu sou a única que consegue desfrutar de cada drama, viver cada ato, saber de todos os atores. No teatro que move a minha vida, apenas eu distingo a realidade da peça, apenas eu vivo a comédia, conheço de todas as farsas e aprendo todos os truque. No teatro que move minha vida, apenas eu conheço todos os espetáculos.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Eternos amantes


E eu tomei aquele velho caminho que eu já estava mais do que acostumada a tomar, sendo que tudo parecia estranhamente errado, parecia que faltava algo, eu procurei, mas estava tudo no mesmo e rotineiro lugar. Segui em frente e abracei meus braços por cima do casaco, era engraçado que por mais que não estivesse nevando, o frio do inverno havia chegado este ano com uma potencia avassaladora, entretanto não fora o frio que me fez procurar envolver-me em meus braços, o que me levou a isto foi a necessidade de achar proteção, conforto.
Pé sob pé, sem pressa alguma de chegar ao meu destino, percebi que estava recebendo olhares assustados, então me dei conta que falava só, na verdade não falava, apenas treinava diferentes tons de voz. Revirei os olhos, os padrões daquela cidade tinham se tornado ainda mais obtuso nos ultimos anos, mas não liguei muito para isso, tinha outras coisas envolvendo meus pensamentos.
Atravessei a rua e respirei fundo, com calma tirei o celular do bolso e uma inquietação tomou meu coração, disquei alguns números e sussurrei de forma rápida quando atenderam as palavras: Hey, to aqui. Sem dizer mais nada, desliguei.
O portão se abriu e o pequeno buldogue francês correu em minha direção.
- Mimi. – Eu disse tomando-a no colo e fazendo carinho em sua cabeça.
- Não cheguei a acreditar que você viria. – Ele mordeu o lábio quando cheguei ao hall. Sua aparência era despreocupada, seu rosto não demonstrava emoções embora eu soubesse que ele não estava tão tranqüilo como queria apresenta-se. Ele havia aprendido muito bem a esconder o que verdadeiramente sentia, nós dois tínhamos
- Eu disse que estaria aqui, não disse? – Sorri de lado.
- Por que eu acreditaria em você dessa vez? – Seu tom foi hostil.
- Honestamente, não sei.
- Você ousa mesmo a falar essa palavra, “honestamente”?
- Você age como se eu o tivesse o machucado. – Eu ativei o modo de defesa. Ele estava para atacar.
- “Eu te amarei em seu pensamento mais sombrio, no seu pior ato eu ainda estarei lá...”
– Nunca passou pela a minha cabeça que o seu pensamento mais sombrio seria contra mim, nunca imaginei que o seu pior ato machucaria a mim. – Eu disse quase não acreditando nas palavras ditas por ele.
- Deveríamos vim com um tipo de aviso, não é? “Cuidado: autodestruição em cinco segundos”
- É o que você acha? Que estamos nos destruindo?
- Ao menos, foi o que fiz. - Ele deu de ombros.
- Você deveria vim com um aviso. - Concordei no mesmo tom hostil -  Mas não de autodestruição e sim dizendo que iria destruir o próximo.
- Eu nunca quis te machucar, L. - Ele tirou a máscara que escondia seus sentimentos e falou sinceramente. A dor de suas palavras foram quase palpáveis.
- E por que machucou? - Eu olhei em seus olhos.
- Você nunca machucou alguém sem intenção? Devo então entender que você quis me machucar?
Meu silencio foi a resposta que ele obteve.
- Sua reação pode ser mais previsível? - Ele gritava, mas meio que tinha um sorriso de dor esboçado em seu rosto - Era exatamente isso que eu esperava de você. Tudo que eu sou, tu também és. Todos os jogos que joguei, tu também jogaste... De todos as brincadeiras que brinquei, tu também brincastes. Por que não assumes logo que estamos no mesmo nível?
Eu não conseguia dizer nada, cala palavra atravessava em mim como uma faca pontiaguda.
- Você DORMIU com ele. – Ele jogou em cima de mim. – Ele a tocou, ele a possuiu. Ele a beijou, ele penetrou em ti como eu deveria fazer. Ele deve ter dito o quanto você é linda, o quanto sua pele é macia, ele deve ter te explorado em cada lugar... Ele... - Ele parou e concluiu em um tom baixo - Ele fez o que eu deveria ter feito.
- E por que não fez? - Eu falei em um tom mais baixo que pude.
- Por que eu não fiz te dar o direito de dar pra qualquer idiota que aparecer? - Ele colocou a máscara deseparecendo todo os tipos de sentimentos de seu tom ou de sua expressão.
- Do que você está me chamando exatamente, Chuck? – Eu fiquei com medo da resposta.
- Puta, vadia. – Ele cuspiu as palavras, frio.
- Tu não pensas antes de falar, não é? Não pensas. – As lagrimas espessas que estavam presas começaram a descer minha face lentamente - Você acha que assim ganha o quê? Você nunca é capaz de ser gentil comigo, nunca. E depois me quebra, me joga no chão e humilha-me. Qual é o seu problema?
- O meu problema é que você existe. Este é a droga do meu problema. Você existe. E mesmo quando não houver mais existência, você irá existir pra mim, porque se um dia você não existir mais, eu também não existirei. Como poderei eu viver em um mundo sem saber que você não está presente nele? Qual será o sentido? Eu preciso que você exista pra poder existir. O meu problema é que mesmo que não houver mais vida, minha vida terá sido tua e mesmo quando não existir mais razão, você será toda as minhas desculpas. Você não entende? Você é a droga do meu problema, você me encanta com tantos encantos e depois desaparece deixando apenas seu cheiro em minha camisa, o que é ainda pior do que apenas desaparecer, você faz questão de ser o meu tormento. Você faz questão de deixar sua marca, para eu viver eternamente em sua sombra. Agora, qual é o seu problema?
- Não me deixes ir. - Eu supliquei - Não me deixes desaparecer. Eu nunca quis sair daqui. Eu nunca quis está em algum outro lugar que você não estivesse presente, nunca.
- E por que fazes questão de ir? - Ele me olhou sincero.
- E por que você não fez questão de não me deixar ir? -Indaguei com dor - Por que você nunca se importou em me dar motivos para ficar?
- Sinto muito se não posso demonstrar, sinto muito que não possa te amar da forma como ele a ama. Eu sinto mesmo. Mas a questão não é como eu te trato e sim se você já me viu tratar alguém melhor.
- Sei que não. Conheço você. Mas isso não te dar o direito de ser ríspido comigo.
- Eu nunca quis isto.
- Nem eu. - Lamentei.
- Confie em mim.
- Como poderia? - Dei uma risada seca.
- Da mesma forma que eu posso confiar em ti. - Seus olhos azuis penetravam os meus e eu pude sentir mergulhando-os, descubrindo todas os seus segredos, deixando apenas o verdadeiro.
- Você não deveria. - Mordi o lábio.
- Tente impedir-me.
- Eu não quero te impedir.
- Então por que eu não deveria?
- Porque eu nunca fui e nem serei digna da sua confiança. E se eu te machucar de novo?
- É um risco que quero correr.
- Não desejes riscos.
- Você é tudo o que eu mais desejo.
- Por quê?
- Você é um risco, um risco perfeito. Um movimento errado e a pólvora se transforma em fogo.
- Vamos nos destruir assim.
- Que seja, apenas que seja você que me destrua.
- Como podes ser tão masoquista?
- Diga-me se tu não sentes o mesmo.
- Eu tenho medo de dizer e tu desapareceres.
- Para onde eu poderia ir?
- Já foste tantas outras vezes.
- Nenhuma vez pode ser comparada a essa.
- Seu sorriso está desbotando em minha memória.
- Nunca pararei de sorrir se você não deixar isso acontecer.
- Eu amo você.
- Eu amo você.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Rua do Sol

Eu não estava acostumada, eu não esperava, depois de tudo simplesmente não fazia sentido.
Todo milésimo pareceu passar com uma grande extensão de dor. Doeu muito. Doeu mais que qualquer outra coisa que eu possa comparar, mas o pior foi ter ainda que escutar a sua comemoração silenciosa que rodava por todas as partes, pairando e se perpetuando em minha mente.
Como uma boa atriz que sou, me limitei a dá um sorriso e esconder toda aquela angustia dentro de mim. Sem expor nada em meu olhar e com o tom mais meigo que possa existir, finalmente disse: É, não importa mais. E assim me levantei da cadeira, coloquei uma mecha de cabelo para trás e segui em linha reta. Senti a hesitação dele ao me deixar ir, mas por fim senti o gosto amargo do seu sorriso esnobe e me dando a liberdade de escolher.
Não ousei a olhar para trás nenhuma vez, se tivesse olhado teria deixado uma parte de mim ali. Ao escutar o soar do sino atrás de mim, desmanchei aquele sorriso perfeito, coloquei meus óculos escuros e continue a andar, joguei os cabelos e até me atrevi a retocar meu brilho labial.
Nenhum olhar que recebi passou despercebido, fui capturando todos e identificando-os: Desejo, inveja, admiração. Ri com a tolice destas pessoas. Como é engraçado poder andar na rua e perceber que as pessoas não possuem a menor ideia do que te leva a andar por aquelas estradas, nem imaginam as coisas que você já passou e nem sonham que você não é só uma modelo perfeita de rua. Estas pessoas se limitam a nos olhar e pensar coisas importantes, como o número do meu manequim, que número é a cor do meu gloss, onde eu consegui aquela bolsa exuberante. Alguns vão além, imaginam meu toque, meu sabor, meu tom e meu gosto... Pobres e ingênuos.
Confesso que jamais conseguiria chegar até ali de novo, não prestei atenção em nenhuma rua que tomei e só parei de andar quando percebi que já não tinha mais ninguém na rua além de mim e um gato branco que pulava de uma árvore a outra.
O silencio se expandia de acordo com o frio que emergia e o nó tomou conta de toda a garganta e se tornou meio que impossível de respirar. Nenhuma lágrima ameaçou escorrer naquelas horas (Ou segundos?), mas admito que meus olhos ficaram pesados.
Cortar o silencio naquele lugar me parecia um crime com um sentença de morte muito dolorida, me perguntei se alguém já tinha se atrevido a falar naquele lugar. Não ousei nem a me mexer para o salto não estrondar em cada contado com o asfalto.
Olhei nitidamente onde estava e cortei o silencio como um raio corta uma noite escura, breve e assustador, deixei exclamar um “ah!” e logo depois me aquetei esperando minha condenação por ter rompido o barulho secreto daquele silencio, mas isso não ocorreo.
Então o barulho e a excitação se transformaram em algo quase interminável. O barulho era desesperador, como de uma bomba-relógio, me assustei ao perceber que era eu que produzia aquele barulho, aqueles longos e desesperados tum-tum vinham de dentro do meu peito.
Ainda parada, um sorriso sincero esboçou-se em meu rosto enquanto eu olhava tudo admirada. Eu queria olhar cada espaço daquele canto pois sabia que uma vez que saísse dali, jamais voltaria.
“Rua do Sol” indicava a placa a minha esquerda e eu não demorei a entender o porque do nome. A rua ficava na parte alta da cidade e seu horizonte era uma imensidão de prédios que eu, provavelmente, tinha construído destruindo assim o pôr-do-sol mais lindo do mundo.
O sol ainda era visível, pois estava ainda no alto, mas ele sumiu antes de poder escutar minhas juras que jamais ia torná-lo a machucá-lo, que não ia mais destruí-lo, que não ia mais impedir suas belas paisagens se proliferarem, que não ia mais limitá-lo. Ele sumiu antes de poder escutar qualquer uma dessas coisas, ele simplesmente se foi.
Quando a escuridão surgiu e preencheu todo centímetro daquele lugar, ele apareceu de novo, desta vez só pra mim e segurando minha mão disse: Não importa se você chegou ou não a dizer algo, eu já sei exatamente o que seu silencio quer dizer e foi a coisa mais honesta e bonita que já ouvi.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Nossa vida, seus erros, minhas palavras


Eu possuo segredos que o Diabo desconhece, eu já provei os mais diferentes tipos de venenos, eu entrei em esquinas que nunca tinham sido visitadas, eu acelerei nas curvas mais perigosas e em grandes retas eu muitas vezes parei. Não estou dizendo que tudo que eu fiz foi o que me manteve na luz, muito pelo contrário, permaneço nas sobras a mais tempo que possa me lembrar, porém eu sempre sobrevivi. Eu não saí daqui, eu nunca parti.
Eu sei que não tenho motivos nenhum pra lamentar, eu sei que desta vez o erro não é meu, eu sei muito bem o que estamos jogando, mas eu ainda sim sinto muito, mesmo sem nenhum direito.
Eu não seria capaz de dizer nunca mais uma vez, eu me arrependo todos os para sempre que eu disse. Eu não deveria ter prometido o que eu não podia cumpri, mas se você ainda se interessar, saiba que vou me manter em minha primeira promessa, “enquanto houver sentido, só enquanto houver sentido”.
Eu não me atreveria a mentir, não hoje. Eu não me atreveria a dizer coisas só por dizer, então se eu ficar calada, não estranhe. É só que eu não poderia fazer isso, não poderia, como poderia? Eu não posso dizer que eu não vou sentir saudades, eu não posso dizer que vai ser indiferente, que tudo já está bem guardado. Também não vou dizer que estou morrendo, que não sei o que vai ser daqui pra frente, andar sozinha nunca foi um desafio pra mim, eu não me atreveria a mentir hoje.
Eu já sei, não há nada mais que você possa me dizer que eu não já saiba, eu sei, eu te conheço, eu conheço seus segredos, eu conheço tudo sobre você, mas honestamente, eu acho que já vi todo esse espetáculo, a cortina fechou e você foi o único que não percebeu isto.