No teatro que move minha vida, eu sou a única que consegue desfrutar de cada drama, viver cada ato, saber de todos os atores. No teatro que move a minha vida, apenas eu distingo a realidade da peça, apenas eu vivo a comédia, conheço de todas as farsas e aprendo todos os truque. No teatro que move minha vida, apenas eu conheço todos os espetáculos.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Rua do Sol

Eu não estava acostumada, eu não esperava, depois de tudo simplesmente não fazia sentido.
Todo milésimo pareceu passar com uma grande extensão de dor. Doeu muito. Doeu mais que qualquer outra coisa que eu possa comparar, mas o pior foi ter ainda que escutar a sua comemoração silenciosa que rodava por todas as partes, pairando e se perpetuando em minha mente.
Como uma boa atriz que sou, me limitei a dá um sorriso e esconder toda aquela angustia dentro de mim. Sem expor nada em meu olhar e com o tom mais meigo que possa existir, finalmente disse: É, não importa mais. E assim me levantei da cadeira, coloquei uma mecha de cabelo para trás e segui em linha reta. Senti a hesitação dele ao me deixar ir, mas por fim senti o gosto amargo do seu sorriso esnobe e me dando a liberdade de escolher.
Não ousei a olhar para trás nenhuma vez, se tivesse olhado teria deixado uma parte de mim ali. Ao escutar o soar do sino atrás de mim, desmanchei aquele sorriso perfeito, coloquei meus óculos escuros e continue a andar, joguei os cabelos e até me atrevi a retocar meu brilho labial.
Nenhum olhar que recebi passou despercebido, fui capturando todos e identificando-os: Desejo, inveja, admiração. Ri com a tolice destas pessoas. Como é engraçado poder andar na rua e perceber que as pessoas não possuem a menor ideia do que te leva a andar por aquelas estradas, nem imaginam as coisas que você já passou e nem sonham que você não é só uma modelo perfeita de rua. Estas pessoas se limitam a nos olhar e pensar coisas importantes, como o número do meu manequim, que número é a cor do meu gloss, onde eu consegui aquela bolsa exuberante. Alguns vão além, imaginam meu toque, meu sabor, meu tom e meu gosto... Pobres e ingênuos.
Confesso que jamais conseguiria chegar até ali de novo, não prestei atenção em nenhuma rua que tomei e só parei de andar quando percebi que já não tinha mais ninguém na rua além de mim e um gato branco que pulava de uma árvore a outra.
O silencio se expandia de acordo com o frio que emergia e o nó tomou conta de toda a garganta e se tornou meio que impossível de respirar. Nenhuma lágrima ameaçou escorrer naquelas horas (Ou segundos?), mas admito que meus olhos ficaram pesados.
Cortar o silencio naquele lugar me parecia um crime com um sentença de morte muito dolorida, me perguntei se alguém já tinha se atrevido a falar naquele lugar. Não ousei nem a me mexer para o salto não estrondar em cada contado com o asfalto.
Olhei nitidamente onde estava e cortei o silencio como um raio corta uma noite escura, breve e assustador, deixei exclamar um “ah!” e logo depois me aquetei esperando minha condenação por ter rompido o barulho secreto daquele silencio, mas isso não ocorreo.
Então o barulho e a excitação se transformaram em algo quase interminável. O barulho era desesperador, como de uma bomba-relógio, me assustei ao perceber que era eu que produzia aquele barulho, aqueles longos e desesperados tum-tum vinham de dentro do meu peito.
Ainda parada, um sorriso sincero esboçou-se em meu rosto enquanto eu olhava tudo admirada. Eu queria olhar cada espaço daquele canto pois sabia que uma vez que saísse dali, jamais voltaria.
“Rua do Sol” indicava a placa a minha esquerda e eu não demorei a entender o porque do nome. A rua ficava na parte alta da cidade e seu horizonte era uma imensidão de prédios que eu, provavelmente, tinha construído destruindo assim o pôr-do-sol mais lindo do mundo.
O sol ainda era visível, pois estava ainda no alto, mas ele sumiu antes de poder escutar minhas juras que jamais ia torná-lo a machucá-lo, que não ia mais destruí-lo, que não ia mais impedir suas belas paisagens se proliferarem, que não ia mais limitá-lo. Ele sumiu antes de poder escutar qualquer uma dessas coisas, ele simplesmente se foi.
Quando a escuridão surgiu e preencheu todo centímetro daquele lugar, ele apareceu de novo, desta vez só pra mim e segurando minha mão disse: Não importa se você chegou ou não a dizer algo, eu já sei exatamente o que seu silencio quer dizer e foi a coisa mais honesta e bonita que já ouvi.

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