
Todo milésimo pareceu passar com uma grande extensão de dor. Doeu muito. Doeu mais que qualquer outra coisa que eu possa comparar, mas o pior foi ter ainda que escutar a sua comemoração silenciosa que rodava por todas as partes, pairando e se perpetuando em minha mente.
Como uma boa atriz que sou, me limitei a dá um sorriso e esconder toda aquela angustia dentro de mim. Sem expor nada em meu olhar e com o tom mais meigo que possa existir, finalmente disse: É, não importa mais. E assim me levantei da cadeira, coloquei uma mecha de cabelo para trás e segui em linha reta. Senti a hesitação dele ao me deixar ir, mas por fim senti o gosto amargo do seu sorriso esnobe e me dando a liberdade de escolher.
Não ousei a olhar para trás nenhuma vez, se tivesse olhado teria deixado uma parte de mim ali. Ao escutar o soar do sino atrás de mim, desmanchei aquele sorriso perfeito, coloquei meus óculos escuros e continue a andar, joguei os cabelos e até me atrevi a retocar meu brilho labial.
Nenhum olhar que recebi passou despercebido, fui capturando todos e identificando-os: Desejo, inveja, admiração. Ri com a tolice destas pessoas. Como é engraçado poder andar na rua e perceber que as pessoas não possuem a menor ideia do que te leva a andar por aquelas estradas, nem imaginam as coisas que você já passou e nem sonham que você não é só uma modelo perfeita de rua. Estas pessoas se limitam a nos olhar e pensar coisas importantes, como o número do meu manequim, que número é a cor do meu gloss, onde eu consegui aquela bolsa exuberante. Alguns vão além, imaginam meu toque, meu sabor, meu tom e meu gosto... Pobres e ingênuos.
Confesso que jamais conseguiria chegar até ali de novo, não prestei atenção em nenhuma rua que tomei e só parei de andar quando percebi que já não tinha mais ninguém na rua além de mim e um gato branco que pulava de uma árvore a outra.
O silencio se expandia de acordo com o frio que emergia e o nó tomou conta de toda a garganta e se tornou meio que impossível de respirar. Nenhuma lágrima ameaçou escorrer naquelas horas (Ou segundos?), mas admito que meus olhos ficaram pesados.
Cortar o silencio naquele lugar me parecia um crime com um sentença de morte muito dolorida, me perguntei se alguém já tinha se atrevido a falar naquele lugar. Não ousei nem a me mexer para o salto não estrondar em cada contado com o asfalto.
Olhei nitidamente onde estava e cortei o silencio como um raio corta uma noite escura, breve e assustador, deixei exclamar um “ah!” e logo depois me aquetei esperando minha condenação por ter rompido o barulho secreto daquele silencio, mas isso não ocorreo.
Então o barulho e a excitação se transformaram em algo quase interminável. O barulho era desesperador, como de uma bomba-relógio, me assustei ao perceber que era eu que produzia aquele barulho, aqueles longos e desesperados tum-tum vinham de dentro do meu peito.
Ainda parada, um sorriso sincero esboçou-se em meu rosto enquanto eu olhava tudo admirada. Eu queria olhar cada espaço daquele canto pois sabia que uma vez que saísse dali, jamais voltaria.Então o barulho e a excitação se transformaram em algo quase interminável. O barulho era desesperador, como de uma bomba-relógio, me assustei ao perceber que era eu que produzia aquele barulho, aqueles longos e desesperados tum-tum vinham de dentro do meu peito.
“Rua do Sol” indicava a placa a minha esquerda e eu não demorei a entender o porque do nome. A rua ficava na parte alta da cidade e seu horizonte era uma imensidão de prédios que eu, provavelmente, tinha construído destruindo assim o pôr-do-sol mais lindo do mundo.
O sol ainda era visível, pois estava ainda no alto, mas ele sumiu antes de poder escutar minhas juras que jamais ia torná-lo a machucá-lo, que não ia mais destruí-lo, que não ia mais impedir suas belas paisagens se proliferarem, que não ia mais limitá-lo. Ele sumiu antes de poder escutar qualquer uma dessas coisas, ele simplesmente se foi.
Quando a escuridão surgiu e preencheu todo centímetro daquele lugar, ele apareceu de novo, desta vez só pra mim e segurando minha mão disse: Não importa se você chegou ou não a dizer algo, eu já sei exatamente o que seu silencio quer dizer e foi a coisa mais honesta e bonita que já ouvi.
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