No teatro que move minha vida, eu sou a única que consegue desfrutar de cada drama, viver cada ato, saber de todos os atores. No teatro que move a minha vida, apenas eu distingo a realidade da peça, apenas eu vivo a comédia, conheço de todas as farsas e aprendo todos os truque. No teatro que move minha vida, apenas eu conheço todos os espetáculos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Espelho em palavras


- Eu não acredito. - Foi tudo que ela conseguiu dizer.
- Ótimo, não acredite. Não deixará de ser verdade. – Eu sorri irônica.
- Como você pode ser tão fria?
- É só o que as pessoas fazem, ok? Está na hora de você crescer.
- E me tornar como você? Não obrigada! – Ela falou com lágrimas nos olhos.
- O mundo é cruel, você vai acabar percebendo isso.
- O mundo não é cruel. Você é. – Ela rebateu, eu podia ver o medo em seus olhos.
- E eu sou parte do mundo. Seja mais sensata. – Eu dei de ombros.
- Eu não sei o que é pior – Ela dizia balançando a cabeça freneticamente - se é você fazer o que faz ou não ligar a mínima pelo o que faz.
- Não é o que eu faço. É o que todos fazem. – Eu disse acendendo um cigarro.
- Eu não faço. - Sua voz era quase um sussurro.
- Criança. – Eu revirei os olhos e saí da cozinha em direção ao meu quarto.
- Pelo menos eu não sou como você. – Ela disse sem voz.
Ela não entendia. Ela era muito ingênua para poder entender, inocente demais para entender. Sua mente infantil era rodada de coisas imbecis como sentimentalismos e emoções.
Ás vezes queria tomá-la pelos os braços, protegê-la, fazer as dores cessar. Momentos assim eram raros e duravam pouco mais que segundos, era egoísta demais para fazer algo assim, pior que isso, era medrosa demais. Se fizesse isto, as dores seriam contra mim, os riscos iria ferir a mim, a vulnerável seria eu.
Eu sabia que ela um dia ela mudaria, que um dia ela se transformaria, um dia todos se modificam para poder sobreviver. Eu já tinha sido como ela, agora ela vai ser como eu. Mas este pensamento me castigava, eu queria que ela se transformasse? Eu gostaria dela se ela não possuísse mais aquele brilho inocente no olhar? A resposta era não.
Eu a amava porque ela era o que eu tinha medo de ser. Ela era a luz, a esperança e mesmo que isso não a levasse a lugar nenhum, ela não mudava de caminho. Ela era a prova que tudo havia sentindo e que a vida não era perda de tempo.
Terminei meu cigarro lendo alguns anúncios do jornal, era como mirar um espelho sem fim e sem reflexo: Assassinato, prisão, solidão, perpetua. 

2 comentários:

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